
segunda-feira, 5 de março de 2007
O Teu toque
Sabe-se lá de onde me chega esta dor de inundar as manhãs
e de percorrer o dia de gatas, tateando as flores do silêncio
as que me floriram nos olhos e são tuas.
Aquelas, cujas sementes perdeste e desabrocharam em mim.
Eu, sem saber porque razão me doem e me cegam estas flores que estão nuas,
e que tu deixaste espalhadas pelas ruas para me tocarem assim...
aqui tas deixo, criadora de todos os desassossegos.
Rega-as com a tua vontade de existir.
Não as deixes murchar, pois que eu me finarei com elas até à eternidade...
Tarde
( todas as palavras arderam nos olhos confundidas nos lábios da memória, todos os sonhos queimaram os cabelos quando os meus braços te esmagaram contra o peito)
Chovem as horas
molho os pés
e nos passos predomina o silêncio da tarde...e tu não estás!
A hora é esquecida.
A vida por ti é um vulcão que me abala e não arde.
Rosas jazem sobre a imagem que guardo
é com o seu cheiro que invento a forma de existires em mim
sei que para além da dor se acrescenta o amainar das águas
e outro sabor nos invade
com todas as memórias que eu guardo por entre as algas das minhas mágoas.
Antes que a noite acabe
(Antes que a noite acabe quero amar-te por detrás do silêncio das gaivotas
no marulhar da luz nos teus cabelos refazendo todos os teus gestos...)
Apetecia-me perguntar porquê
mas o canto das aves foi mais forte por detrás da manhã que se ergueu a roçar a maresia.
apetecia-me
sei lá que translúcidas palavras
que deixassem antever os simbolos reais do que descrevem.
apetecia-me apetecer-te...
mas vou ficar aqui
dedilhando penas
de asas que nunca terei...
...escolhi este dia para estar triste
por não sentir o teu perfume...
Acende-se a manhã, o tempo escorre por entre os dedos
como areia incontrolável
a tarde abre-se-me à janela semi-nua
o crepúsculo aproxima-se de olhos baixos
com gotículas de orvalho refrescando os lábios
lá fora está a rua aguardando os meus passos
e eu cá dentro
aguardando os teus braços.
Um dia deixarás de ser a tarde do silêncio em minhas mãos
o dorso-da-fome-dos-lábios que eu sinto ao acordar
a cruz que transportamos nos olhos como se fossemos irmãos
a réstea de sonho que invade os passos e no faz amar.
Lavra no meu peito como se fosse o teu bosque predilecto
e planta, planta nele as árvores multicolores que trazes acesas no olhar...
...vem e não esperes pelo acordar matinal
vem antes que o oiro da imaginação se esfume
traz a tua música, o teu concerto de natal...
Vem querida, já sinto o teu perfume...
...algo me diz que o teu coração é um barco navegando
e que eu sou seu porto.
Esperei-te
com a saudade escorrendo por entre os dedos
pensando misturar nos meus os teus segredos
e invadir os silêncios dos recantos da tua voz...
Até que a noite ofuscou essa esperança
e tu foste embora
e não quiseste saber dos meus cansaços
nem dos meus dedos entrelaçados nos braços
e deixaste-me só
com a saudade aos pedaços.
O amor
é este meu desdobrar sem sentido
em vários eus tentando encontrar o recanto
onde os teus olhos me falam ao ouvido
e os teus lábios descem sobre os meus como um manto...
(minha manhã acesa pelo sol dos teus olhos).
Só tu te podes encontrar dentro de mim
na raiz do meu corpo
no gesto do meu silêncio
na mão que escorre por sobre a minha pele
acariciando os meus cansaços
Só tu te podes encontrar à beira do meu sono
incendiando as manhãs, apertada nos meus braços.
Pode não ser nada
Pode ser absurdo eu dizer que amo meu sonho por sonhar
dizer que me acendes os olhos e me ergues no sono em cada respiração
posso não saber o caminho para ti, que anseio por desvendar
pode não ser nada
apenas a dor que passa
a letra de uma canção...
Mas interrogo-me porque te imagino em cada degrau de escada
em cada barco, em cada janela acesa na noite de insónia, em cada avenida ao longe...
E sei que nunca farás parte do meu destino, nunca cruzaremos a mesma estrada
meu sonho por sonhar que amo e agora quero, e por quem morro hoje.
Misturar nos teus os meus desejos
como a sliva em todos os beijos
doce, como a romã translúcida
que acorda a sombra desta manhã
em que te encontro.
A minha sede de ti
Trago os lábios secos
arde-me a água ao canto da boca
aguardo no teu silêncio
uma palavra,
ainda que ardida na última chama.
A tarde acende-se-me nos olhos
tacteio por detrás do silêncio o que ficou de ti
há memórias ainda em sangue das ultimas conversas
o resto guardá-lo-ei no meu castelo
em cada gaveta uma palavra tua
em cada porta um autocolante
em cada janela uma aragem com o teu perfume
e quando sair á rua
em cada árvore inscreverei o teu nome.
Aguardo o acalmar das ondas revoltas
para que o meu pensamento se acomode
à dor de saber que já não voltas...
Ficaremos os dois presos na memória
no dorso das palavras que convergem
à imaculada imagem mútua que guardamos...
Saudades...como as horas que passam sobre a tarde...
Estarei sempre aqui...para ti, Maria.
Pedro Macela
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